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Setembro Amarelo: batalha de prevenção ao suicídio

Você sabia que o “Setembro Amarelo” é campanha de prevenção ao suicídio que acontece aqui no Brasil desde 2015?  Não é um assunto do qual gostamos de falar ou escrever, porém, é muito importante que você leia este artigo até o fim. Quem sabe poderá ter oportunidade de salvar alguém próximo a você?

Ao longo de todo o mês, representantes da sociedade civil organizada e governamental aderem à campanha, com o intuito de disponibilizar um canal de informação e ajuda à população e também quebrar o tabu que cerca o tema e que tira pessoas queridas de todos nós. Segundo dados da OMS, no Brasil, ocorrem 32 suicídios por dia. É segunda maior causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos no mundo, atrás apenas de acidentes de trânsito. Em 2016, foram registrados 13.467 casos, a grande maioria entre homens.

As causas do suicídio ainda não estão definitivamente estabelecidas, porque variam de acordo com o comportamento social geral, proveniente de fatores externos[1], bem como das inclinações internas do próprio indivíduo.  Como fator externo é possível citar a exposição dos trabalhadores rurais aos pesticidas, cujos componentes são depressores do sistema nervoso central; crises financeiras, assédio moral ou sexual, o que nos deixa tristes e deprimidos. As causas relacionadas ao ambiente de trabalho têm sido abordadas em estudos específicos que tratam da correlação entre o suicídio, o trabalho e os efeitos da globalização.[2] 

Um exemplo concreto que espelha essa correlação é o famoso caso France Telecom – Orange, em que 35 empregados, no período 2008 a 2009, cometeram suicídio em decorrência do assédio moral sofrido. O caso é considerado emblemático em virtude de ser a primeira vez que uma empresa é responsabilizada criminalmente pelo suicídio de seus empregados.[3]

                                   

Os empregados deixaram cartas reveladoras[4], cujo conteúdo indicava a culpa direta de seus gestores por colocarem em prática a gestão pelo terror. Revelavam que o modelo gerencial implantado gerava frustração, sentimento de culpa e estresse permanente. 

Os profissionais eram transferidos para outras funções, ou seja, engenheiros, que ocupavam cargos de primeiro escalão, foram remanejados para o serviço de call-center. Tais práticas objetivam pressionar os empregados a pedir demissão; contudo, no caso da France-Telecom, gerou uma infeliz onda de suicídios.

                       

Segundo Dejours, pesquisador francês e autor do livro Suicídio e trabalho: o que fazer ?”, a  ocorrência de ao menos um episódio é indicador suficiente  para a incidência de novos casos, o que torna compulsória a investigação minuciosa  das causas. Para o autor, o  suicídio endereça uma mensagem que pede para ser decifrada e que, quando feita, pode “revelar a desestruturação profunda da ajuda mútua  e da solidariedade. Ou seja: a intensa degradação do viver junto em coletividade.”[5] Isso quer dizer que devemos prestar cada vez mais a atenção em todas as relações de trabalho.

E o que podemos fazer? As soluções começam nos cuidados com a saúde mental do trabalhador, por meio de implementação de políticas internas de prevenção de doenças físicas e mentais. Passam também pela avaliação da forma de gestão dos recursos humanos das empresas, de modo a prevenir modelos que propiciem o assédio moral em todas as suas formas, a competição exarcebada, o estresse contínuo, enfim, tudo que possa levar ao esgotamento psicológico.  Segundo a OMS, 9 em cada 10 mortes pos suicídios podem ser evitadas e isso depende da atenção de todos nós.

A prevenção e o auxílio demandam a criação de canais abertos para além da empresas, as quais, em geral, omitem-se em investigar os casos ocorridos, simplesmente culpando a vítima por suas fraquezas pessoais e desviando o foco da degradação do ambiente de trabalho. É nesse momento que se faz importante a intervenção dos sindicatos como agentes informadores e formadores da política de proteção ao meio ambiente do trabalho saudável, oferencendo canais de denúncia anônima em caso de assédio; psicólogos, psiquiatras e advogados, todos capacitados a auxiliar, dentro de suas habilidades, o empregado vítima de práticas abusivas.

Por fim,  vale lembrar também da necessidade do auxílio do Estado – por meio do SUS –  no enfrentamento do suicídio, encarando-o como problema de saúde pública, merecedor de inclusão assistencial nos programas de atenção básica de saúde de Estados e Municípios. Sabemos que a informação e a escuta solidária podem salvar vidas, seja de casos relacionados ao trabalho, como é foco deste texto, seja decorrentes de diversas outras causas psicosociais e mentais.

 

Precisamos sempre lutar para garantir um trabalho decente para todos, preservando a dignidade de cada indíviduo, garantindo, assim, uma sociedade mais saudável e justa. Por isso, apoiar e divulgar a campanha Setembro Amarelo é dever de todos como cidadãos em respeito à sociedade e ao próximo.

Para maiores esclarecimentos e auxílio: www.setembroamarelo.org.br, www.abp.org.br e www.cvv.org.br

REFERÊNCIAS

[1] O sociólogo Emile Durheim, em seu livro “O Suicídio”, define o fato em questão como um fenômeno social que transcende circunstâncias individuais revelando que as causas decorrem de fatores externos ao indivíduo.

[2] DEJOURS, Chistiphe & BÍGUE, Florence. Suicídio e trabalho: o que fazer? Editora: Paralelo 15, Brasília, 2010.

[3] Disponível em: <https://www.triple-c.at/index.php/tripleC/article/view/801/966>. Acesso em 29/08/2019.

[4] Disponível em: <https://www.triple-c.at/index.php/tripleC/article/view/801/966>. Acesso em 29/08/2018.

[5] DEJOURS, Chistiphe & BÍGUE, Florence. Suicídio e trabalho: o que fazer? Editora: Paralelo 15, Brasília, 2010, p. 21.

Meilliane Pinheiro Vilar Lima

Advogada da LBS Advogados
E-mail: meilliane.lima@lbs.adv.br

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